31 de jul. de 2007

Desvão (Há quem prefira azul)

O grande problema do Cazuza foi ter nascido aqui. Não que vivamos em uma nação ruim mas, caros leitores, hão de concordar que boa parte de nossos conterrâneos são, digamos que um tanto hipócritas. Talvez esta palavra seja demasiadamente forte para tal colocação, mas sei que isso pouco importa a vocês.

O fato de ser quem ele foi, e fazer o que fazia, cantar o que cantava, bagunçou de certo modo (e em poucos) a libertinagem do julgamento alheio. Imagino a impertinente raiva do ariano mais famoso da época, para com seus fans.

Milhares de pessoas cantando em coro, poesias por ele escritas, palavras designando sentimentos de um humano que, para muitos destes milhares, era alguém que desmerecia respeito. Mesmo sendo aquele que traduzia os sentimentos dessas pessoas e mesmo sendo o cara que cantava as poesias mais influentes que já se ouvira. Pros insanos preconceituosos, ele era apenas mais um cara.

"Dias sim, dias não
Eu vou sobrevivendo sem um arranhão.
Da caridade de quem me detesta...
A tua piscina está cheia de ratos
Tuas idéias não correspondem aos fatos"

O quê? Nunca reparou nisso? É, ele sabia sim, e sabia melhor que qualquer um de nós que a sua arte agradava, mas a sua personalidade causava desprezo em quem se achava superior. Para mim, superioridade não tem ligação com opção sexual, cor de pele, religião ou qualquer outra coisa do gênero. Superioridade tem ligação direta com caráter, com respeito. Se não possui mente aberta para aceitar tais coisas desse nosso mundo moderno, então respeita. Respeito não dói, e engrandece quem o exala, enaltecendo o bom senso de não criticar as opções alheias.

O que há de errado em gostar mais de rosa que de amarelo, ou preferir vermelho ao verde? O que há de errado em detestar praia? Em ser fascinado por flores? Qual o problema em preferir ópera à rock? O que há de errado em preferir mulheres à homens, ou homens à mulheres, ou preferir os dois? Me respondam, caros leitores, o que há de incerto nisso tudo. Sinceramente, para mim, são perguntas que nem deveriam existir. Não há nada de errado em não gostar de chocolate, em ser mulher e não gostar de homem, em ser homem e não gostar de mulher.

Dá vontade de dar um cigarrinho de haxixe pra esses seres ignorantes pra ver se suas mentes se abririam por míseros minutos, ao menos, à um novo mundo, à novos conceitos, à falta de censura. Porque toda censura é burra. Enfim, morreu meu herói vendo (e sentindo) o desprezo alheio por ele, mas a adoração eterna à sua poesia.

Lamento, Cazuza, mas o mundo continua do mesmo jeito que deixastes.